Os ritos da Wicca reverenciam a ligação da vida dos praticantes e das Divindades com a Terra. Essa reverência se expressa, principalmente, através de rituais cuja liturgia celebra as lunações e as mudanças das estações do ano.
Os praticantes de Wicca realizam rituais em honra à Deusa nas noites de Lua Cheia. Esses rituais são normalmente denominados Esbats. Algumas tradições chamam também de Esbat rituais realizados nas demais fases da lua.
Estes ritos são celebrações onde se acredita que a Deusa Sábia desce até a Suma Sacerdotiza através do rito de “Puxar a Lua”, sem tomar seu corpo, e através dela, revela sua sabedoria.
O culto à Deusa pode ser feito a um dos aspectos do divino feminino:
* A virgem, que representa a pureza feminina, o vigor, a inocência e a sedução (Lua Crescente);
* A mãe, fonte da vida e protetora (Lua Cheia);
* A anciã, velha e sábia, conhecedora dos maiores mistérios da vida e da morte (Lua Minguante);
* A ceifera, seu lado escuro e destruidor (lua negra).
Vale alertar que não há entidade que represente o “mal supremo” na Wicca. Todos os Deuses têm a polaridade bem/mal e a sabedoria para usar.
É prática corrente na maioria das tradições comemorar anualmente oito festivais sazonais, chamados de Sabbats. Eles marcam a passagem do tempo no calendário solar e costumam seguir a seguinte ordem:
* O ano se inicia em Samhain, (Lê-se Soul-êim) quando o Deus, filho e consorte da Deusa, morre.
* Depois ele nasce em Yule do útero da Deusa;
* Passa sua infância em Imbolc, quando é alimentado pelo seio sagrado da Senhora Sábia que agora descansa do parto.
* Em Ostara, é a Deusa Renascida que vem trazendo sua força, ela é a Deusa Infante e ele o Jovem Caçador das Matas.
* Em Beltane, ele se une à Deusa Donzela, e com ela faz o Grande Rito.
* Em Litha, ele é o mais poderoso e implacável Senhor da Mata, e a Donzela já se tornou a Sacra Mãe.
* Em Lammas ele começa sua rota ao declíneo. Ele é o Deus da Magia, enquanto a Deusa segue seu trilhar para dar a luz novamente ao seu filho.
* Em Mabon, ele é o Grande Sábio Deus Verde e está se preparando para sua passagem, enquanto a Deusa começa sua resignação como mãe e mulher que sofre a já perda de seu Filho.
* Volta a morrer em Samhain, realizando a grande espiral do renascimento, ou simplismente a Roda do Ano.
Quatro Sabbats, chamados Maiores por algumas tradições, celebram o auge das estações. São eles o Samhain (Outono), Beltane (Primavera), Imbolc (Inverno) e Lammas ou Lughnasadh (Verão). Os demais, chamados às vezes de Sabbats Menores, comemoram Solstícios – Litha (Verão), Yule (Inverno) – e Equinócios – Ostara (Primavera) e Mabon (Outono).
Há uma grande controvérsia entre os praticantes brasileiros sobre qual a forma mais adequada de escolher as datas dos Sabbats. Vários deles defendem que os Sabbats sejam comemorados nas mesmas datas em que isso é feito no Hemisfério Norte (por exemplo, Yule em Dezembro), enquanto outros defendem a comemoração nas datas em que as estações ocorrem no Hemisfério Sul (Yule em Junho). Praticantes australianos, argentinos, porto-riquenhos, africanos-do-sul e uruguaios comemoram, em sua grande maioria, as datas do Hemisfério Sul.
Alguns chamam a Wicca de religião da Deusa, porque enxergam na Deusa a totalidade. Outros contestam esta afirmação, crendo que em nenhum momento isso se torna verídico, pois a Deusa, por mais poderosa e onipotente que seja, realiza a “Descida” até o Deus do Sub-Mundo, e apenas lá recebe, por intermédio das provações, o conhecimento que precisa para se tornar plena (mitema iniciático). Assim, a Deusa não está completa sem o Deus, nem para portar o conhecimento, nem para realizar o Grande Rito da criação universal, pois apenas dois opostos podem se unir e criar de sua união o Tudo. Há vertentes de Wicca que consideram a Deusa completa em si mesma e outras que enfatizam a crença e culto na polaridade. Não há posturas certas, nem erradas, ambas expressam crenças diversas dentro da mesma religião e cada praticante escolhe a de sua preferência.
Alguns praticantes se reúnem em grupos, denominados Covens, Círculos, Família, Groves ou Clãs, que se diferem em número de participantes, ligação íntima dos praticantes ou até mesmo práticas de Tradições irmãs, enquanto outros trabalham sozinhos e são chamados de “solitários”. Alguns solitários, no entanto, se reúnem em “encontros”, círculos de estudo ou círculos abertos e outros eventos comunitários como o ESP, o PNT, o EnWicca ou EAB (eventos públicos para pagãos), mas reservam suas práticas espirituais (Sabbats, Esbats, feitiços, culto, etc.) para quando estão sozinhos. Alguns praticantes trabalham em comunidade sem necessariamente fazer parte de um Coven.
É usual que os ritos praticantes sejam realizados no interior de um círculo mágico, que é traçado de forma ritual, após a limpeza e consagração do local, que em geral é realizado em casa ou pequenos espaços como quartos, salas ou quintais. Preces ao Deus e à Deusa são proferidas, a evocação dos Guardiães dos pontos cardeais é realizado e muitas vezes são feitos feitiços adequados ao rito em condução (o qual é o ponto focal da celebração) e então é realizado o Cone de Poder, que concentra e envia as energias do círculo até o objetivo almejado por todos. Ao final, é tradicional a partilha de pão e vinho.
Alguns ritos esquecidos da prática Wiccana estão em acensão novamente, como os ritos de honra e homenagens ao ancestrais e os ritos de passagem, como o banho de prata, o Handcliff, o HandFasting, entre outros.
A maioria dos wiccanos usa um conjunto de instrumentos de altar em seus rituais. Esses instrumentos incluem, dentre infinitos outros, vassouras, caldeirões, cálices, bastões, athames (um espécie de adaga ou punhal, que não é usado para sacrifícios de qualquer espécie), facas (bolline, usada para cortar ervas, flores, e gravar símbolos e velas), velas, incensos, etc. que simplesmente representam os quatro elementos primordiais: Ar, Agua, Fogo e Terra. Representações da Deusa e do Deus são também comuns, seja de forma direta, representativa, simbólica ou abstrata, e são mais usados os símbolos do Cálice para a Deusa, que é o símbolo de seu últero, e o Athame para o Deus, que é a representação de seu falo. Os instrumentos são apenas isso, instrumentos, e não têm poderes próprios ou inerentes. Apesar disso, são normalmente dedicados ou “carregados” com um propósito específico e usados apenas nesse contexto. É considerado extremamente rude tocar os instrumentos de um bruxo ou bruxa sem sua permissão.
O pentáculo – um pentagrama, estrela de cinco pontas, inscrito em um círculo – é um dos símbolos mais utilizados por praticantes para representar sua fé. Normalmente utilizado “de cabeça para cima”, é usado para representar 5 elementos componentes da natureza. Os quatro elementos clássicos – terra, ar, água e fogo – mais o espírito (às vezes chamado de akasha ou éter). Muitos Gardnerianos, no entanto, contestam essa atribuição.
Os praticantes acreditam que cada um deve cultuar a(s) divindade(s) à sua própria maneira. Sem imposições ou leis escritas, mas com consciência em relação à cidadania, à auto-estima e à preservação ambiental, repudiando qualquer forma de preconceito, o proselitismo e incentivando a igualdade de gênero e a liberdade sexual.
A Wicca tem, como leis comuns, a Lei Tríplice, que dita a regra: “tudo o que fizeres voltará em triplo de volta para ti” e a Wiccan Rede que dita: “Faça o que quiseres, desde que nada nem ninguem prejudiques”. A primeira ilustra bem a importância do número 3 em sua filosofia, também exemplificada nos aspectos da Deusa-mãe (virgem, mãe e anciã), e nos tres graus iniciéticos de algumas tradições.